quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

As Desvantagens de Ser um 'Hipopótamo' na Era do Big Data

Poderosos, imponentes e muitas vezes assustadores, estão sempre atraindo as principais atenções por onde passam. Mas não é só na natureza ou nos zoológicos que você pode encontrar estes mamíferos intrigantes. 

No mundo corporativo, os hipopótamos estão frequentemente nas salas dos andares mais altos, com os currículos mais invejados ou nas cabeceiras das mesas de reunião. Temidos ou admirados, a verdade é que os hipopótamos corporativos, chamados "HiPPOs", já viveram dias melhores.

A comparação com os hipopótamos é derivada do acrônimo " HiPPO" ( Highest Paid Person's Opinion ou "parecer da pessoa mais bem remunerada") e diz respeito àqueles que detém o poder da decisão final.

Os hipopótamos do mundo animal possuem uma ótima audição, visão e olfato e uma das maiores bocas (entre os mamíferos só perdem para as baleias). Tendem a ser territorialistas e avançam sobre qualquer um que invada seu habitat. Qualquer semelhança com os HiPPOs corporativos pode não ser mera coincidência.

Por muitas décadas, se tornar um "hipopótamo" foi o objetivo de vida de milhões de profissionais. Afinal, deter o poder da emitir a opinião final era sinônimo de atingir o topo da carreira. Como nos filmes de Hollywood em que, aconselhado por ministros e secretários, o Presidente dos Estados Unidos ouve a todos e diz solenente: "we'll do it my way". E ponto final. 

Na atualidade, entretanto, parecem haver mais desvantagens do que vantagens em ser um hipopótamo. Por quê? Porque estamos vivendo na era da revolução digital. E o que uma coisa tem a ver com a outra? A resposta é simples.

Com a tecnologia, dados e metadados circulam livremente em quantidades absurdas a todo tempo e por todos os lados, capazes de combater a opinião de um HiPPO e desmoralizá-lo em poucos segundos.

Como utilizar os dados, então, a seu favor? É aí que entram em cena os Geeks, ou "nerds", que são os especialistas, que compreendem os números e sua utilidade. São aqueles que utilizam-se de dados estatísticos concretos para emitirem seus pareceres. Se, por muitos anos, foram vítimas de preconceito e taxados de antissociais, hoje possuem, provavelmente, o perfil profissional mais valioso do mercado.

O mais famoso geek mundial atende pelo nome de Nate Silver, um estatístico americano que previu o resultado das duas eleições do Presidente Barack Obama nos 50 estados americanos, ao contrário de diversos analistas políticos. Seu trabalho de análise quantitativa alia teoremas estatísticos com novos fatos à medida em que vão surgindo, para calcular as probabilidades condicionais de resultados. 

Parece simples e infalível, mas não é. Em seu livro, "O Sinal e o Ruído", Nate traz várias situações em que muitas vezes o "ruído", ou uma falsa premissa, pode levar à uma interpretação errônea de "sinal" e comprometer o resultado final.

Então, se nem os Geeks conseguem garantir um resultado 100% preciso, qual é, então, o grande desafio dos HiPPOs no mundo atual? Possivelmente ter a sabedoria e humildade para unir sua experiência aos dados estatísticos, sem deixar de lado sua sensibilidade de gestor estratégico.
Pois, embora os dois riscos sejam reais, ser traído pela intuição é mais comum do que ser traído por dados estatísticos. Escolher o caminho mais seguro é tarefa diária de qualquer liderança.

Por isto é importante escutar especialistas e aprofundar os estudos estatísticos, e não utilizar o peso da opinião para negar os dados, mas sim para alimentá-los. E vice-versa. Podemos arriscar dizer, então, que o par ideal para um HiPPO é encontrar seu Geek para sacramentar um casamento perfeito.

No mundo atual, em que vivemos uma revolução digital, HiPPOs e Geeks podem e devem conviver em harmonia. Ao contrário do que podem parecer à primeira vista, não são inimigos naturais e possuem infinitas possibilidades de cooperação. Juntos, podem tornar-se imbatíveis, liderar qualquer cadeia alimentar e dominar o ambiente em que estão inseridos.

Na defesa dos HiPPOs, é importante lembrar que o "peso" de suas decisões vem acompanhado na maior parte do tempo de uma visão mais global e estratégica da organização. Esta visão não garante, no entanto, que seu parecer leve em conta as especificidades técnicas do assunto em questão.

Por este motivo, a opinião de um Geek pode ter tanto ou mais peso do que a de um HiPPO na decisão final. Afinal de contas, uma opinião sem dados torna-se meramente um palpite. E, no mundo atual, é preciso muito mais para convencer um board de executivos, por exemplo, e não transformar uma reunião de conselheiros em um festival de "palpiteiros" sem credibilidade.

É por estas e outras que, ao contrário do que possa parecer, a vida de um hipopótamo nos dias de hoje não é nada fácil...

 Por: Head of Protocol / Chefe do Cerimonial at Petrobras

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