terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Tal da Empregabilidade

Rosabeth Moss Kanter, conhecida professora a universidade de Harvard, foi a primeira a utilizar o termo empregabilidade, com o significado de “condição de tornar-se empregável”. 

Hoje, porém, com as enormes transformações ocorridas no mundo do trabalho nas últimas décadas, empregabilidade pode ser entendida como capacidade de conseguir aumentar as chances para obter trabalho e remuneração, porém sem a preocupação com o tradicional vínculo empregatício. 

Com a introdução da tecnologia eletrônica, a conseqüente aceleração dos processos produtivos, a oferta de produtos e serviços quase idênticos e o aumento da demanda por qualidade pelos clientes, o mercado mudou fundamentalmente. Em conseqüência, o comportamento de profissionais e organizações deveria mudar também. Na maioria dos casos, não é o que acontece. Um bom começo seria entender que a palavra trabalho não é sinônimo de emprego.

Para quem procura oportunidades nesse cenário instável e competitivo, agora é preciso mais que simplesmente sair panfletando currículos à cata de emprego e de estabilidade. As empresas não estão mais à procura de meros empregados e sim de parceiros: pessoas capacitadas, talentosas, criativas, empreendedoras, que mostrem um equilíbrio inteligente entre suas competências técnicas e humanas. Aliás, estas tradicionais conquistas trabalhistas estão cada vez mais restritas e fadadas a uma gradual extinção na nova e exigente realidade global que se instalou.

No Brasil, por exemplo, apenas 39% dos profissionais atuam hoje inseridos na legislação em vigor, ou seja, através de um contrato social formalizado entre indivíduo e organização. Nos países desenvolvidos esse índice é ainda mais baixo. Daí que a carteira de trabalho assinada, com os benefícios atrelados a ela, está deixando de ser uma regra para ser exceção. No futuro, será uma possibilidade cada vez mais remota. 

Como afirma José Pastore, pesquisador da USP e autoridade nas relações do trabalho: “Esses vínculos entre pessoas e organizações terão, cada vez mais, diferentes formatos, liberados da antiga legislação que ainda vigora”. Nossa ultrapassada CLT, ao invés de facilitar as coisas, termina na contramão do aumento de empregos, situação agravada pelo sistema educacional, ainda obsoleto e em desacordo com as demandas do atual mercado. 

Apesar do enxame de universitários formados, inúmeras vagas não são preenchidas pela falta de profissionais capacitados para ocupá-las. Presos ao sistema do vestibular, os jovens fazem muito cedo sua opção por uma carreira. No percurso, desistem, mudam de curso e, mesmo assim, a maioria termina despreparada e sem uma visão amadurecida do que é necessário para ter sucesso na empreitada profissional.

Na verdade, toda essa nova situação representa uma ruptura definitiva com os procedimentos e relações que marcaram a vida de organizações e trabalhadores nos últimos duzentos anos. Longe de ser causa, a atual crise financeira mundial é apenas um tempero a mais nesse caldeirão das transformações. Para a maioria, porém, os efeitos negativos de tudo isso têm trazido apenas redução do número de vagas, ganhos menores, enorme competição, exigências de constante capacitação, sobrecarga de trabalho e maior pressão por resultados. 

Para uns poucos, porém, esse cenário de mudança mostra-se como caminho para melhorias e crescimento. O profissional de hoje precisa compreender claramente o que está acontecendo, ter percepção para as novas tendências, aprender a aproveitar e também a criar suas oportunidades nesse ambiente contraditório e mutante. O essencial é fazer com que as transformações atuem a nosso favor e não contra. Mais que a antiga visão de apenas sobreviver com segurança, as pessoas devem agora buscar sua realização no trabalho pela capacitação séria, postura ética, inovação e uso inteligente de seus recursos em função dos novos rumos e necessidades humanas que se criaram.

Longe de ser uma visão fatalista, esta realidade só vem comprovar aquela famosa máxima: nada é para sempre. Com sua sabedoria característica, a natureza mostra que, ao longo da evolução, as espécies que continuaram existindo não foram as maiores nem as mais fortes, mas sim as que melhor se adaptaram às mudanças que foram acontecendo na face do planeta. Aquelas que resistiram às novas alternativas foram extintas. A exemplo disso, a regra de ouro para enfrentar o momento atual e o que virá depois também é esta: mudar ou desaparecer. 

Quem quiser conservar ou expandir sua empregabilidade deve avaliar constantemente seus conceitos, seu nível de profissionalismo e seu comportamento no mercado. Se forem contraditórios, esses fatores devem ser mudados, parcial ou completamente. E não é por um simples modismo. É por sobrevivência mesmo.

Fonte: Ronaldo Negromonte Lima - http://www.qualidadebrasil.com.br/

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